Synanon: a Instituição de reabilitação dos anos 60 que terminou com tentativas de assassinato e prisões

Era 1958 quando Charles Dederich, um ex-alcoólatra, criou em seu apartamento um espaço de ajuda terapêutica para viciados em drogas e álcool sob uma proposta diferente que, a princípio, ele intitulava como revolucionária – e que mais tarde realmente se destacaria… a fundação Synanon.

Dederich se aproveitou de uma época em que os viciados eram amplamente descartados como “casos sem esperança” e que pouco se falava sobre termos e conceitos comuns hoje em dia, como planos de tratamento e intervenção médica. Foi dessa maneira que ele cunhou o princípio do “amor duro”. Em uma modalidade que ele chamava de O Jogo, os membros se sentavam em círculo e contavam às pessoas as suas desonestidades, hipocrisias e segredos mais comprometedores.

Foi prometendo sopa, café e conversa que Dederich formou sua base sólida de membros, alegando ser o único que conseguia manter os viciados corretos e intimidá-los a desistir da garrafa ou da droga.

Ao levar seu grupo para os fundos de uma loja abandonada em Santa Monica, Dederich cobrou uma quantia incrivelmente modesta para dois anos completos de tratamento: US$ 33. Essa pechincha conseguiu arrebanhar desistentes de outros programas, pessoas com deficiência intelectual, pessoas com mandado judicial para procurar ajuda e até os filhinhos de papai.

O que pode ter atraído essas pessoas foi o compromisso em ficar 100% limpo antes de ingressar no programa, e isso incluía dispensar medicamentos prescritos. Durante os primeiros 90 dias de tratamento, o contato com o mundo exterior era totalmente cortado.

Os métodos nada ortodoxos – com um toque do que hoje seria considerado um coaching motivacional misturado com evangelização – eram considerados modernos e ousados, e foi o que fascinou as pessoas. Dederich chegava a oferecer vantagens aos participantes, como sanduíches e cigarros de graça, e isso era considerado o “paraíso” das reabilitações.

E aí nós tivemos o ponto de virada: em atividades como O Jogo em que as pessoas revelavam segredos, isso era usado para ameaçar e pressionar membros para fazerem escolhas pessoais e muitas vezes ate violentas, Charles quebrou uma garrafa de cerveja na cabeça de um jovem como parte da “terapia”. E aos poucos as terapias foram se transformando em sessões de espancamentos e tortura que quase matavam os pacientes, não demorou muito para que Dederich começasse a separar famílias e isolar as pessoas.

Nesse ponto a Synanon já não era mais um centro de reabilitação e já havia se transformado em uma seita. As pessoas eram forçadas a raspar a propria cabeça para continuar no programa e a seita já propagava uma mensagem apocaliptica.

O Synanon foi perdendo a força depois que Dederich foi preso, em 1978, e conforme membros do culto foram condenados por atividades criminosas, como tentativa de homicídio, destruição de evidências, terrorismo e crimes financeiros.

Charles Dederich recebeu liberdade condicional, mas foi impedido de chegar perto de seu culto, o que significou a falência e colapso total de Synanon, que se dissolveu em 1991. Embriagado e com problemas de saúde, Dederich morreu em 28 de fevereiro de 1997, aos 83 anos, após uma série de derrames.

A história é contada no novo documentario da HBO “The Synanon Fix; Did the Cure Become a Cult?”

Que flop

tudo termina em seita