Em dezembro de 2004, Tilly Smith, uma garota britânica de dez anos, salvou mais de 100 pessoas, incluindo sua família, em Mai Khao Beach, na Tailândia, depois de perceber os sinais de que uma onda gigantesca estava a caminho.
"Eu continuo pensando como tudo poderia ter sido diferente se eu não tivesse percebido o que estava prestes a acontecer, se eu não tivesse começado a gritar.
Meus pais, minha irmã, eu - todos nós teríamos morrido. E a maioria das outras pessoas aqui naquele dia também teria morrido."
Um dos piores desastres naturais do mundo estava a minutos de distância, mas felizmente Tilly percebeu os sinais, depois de aprender sobre tsunamis em uma aula de geografia em sua escola apenas duas semanas antes.
"À medida que caminhávamos em direção à praia, comecei a ter um sentimento muito estranho. O tempo estava nublado e uma memória muito vívida é de um grupo de meninas tailandesas que faziam massagem na praia se abraçando, chorando.
O mar estava alto na areia e notei que as ondas estavam entrando, mas não saindo. O mar estava ‘fervendo’ e havia espuma em cima das ondas. Continuei pensando, ‘Já vi isso, já vi isso em algum lugar’. Senti que algo terrível estava prestes a acontecer.
Comecei a dizer isso para meus pais, mas eles disseram, ‘Não seja boba, Tilly, o tempo está apenas ruim’ e insistiram que continuássemos. Então eu notei um tronco girando no mar e de repente percebi - tsunami.
Todas as coisas que eu estava vendo estavam no vídeo que tínhamos visto na geografia.
Eram sinais de que um tsunami estava prestes a atingir, e logo."
Antes do tsunami atingir a Tailândia, poucas pessoas no mundo ocidental haviam ouvido falar da palavra - incluindo os pais de Tilly.
Ela diz: "Comecei a gritar, ‘Tsunami, vai ter um tsunami’. Claro, eles não sabiam do que eu estava falando.
"A essa altura, eu estava em pânico, realmente gritando, ‘Temos que sair, temos que correr’. Minha irmã Holly ficou assustada e começou a chorar histérica. Meu pai decidiu voltar para o hotel com ela para acalmá-la, mas minha mãe se recusou a sair.
“Ela continuou a andar. Estávamos nos afastando cada vez mais do hotel. Eu estava gritando, ‘Por favor, mãe, por favor volte comigo’. Eu dizia, ‘Se você não voltar comigo, não vai sobreviver.’ Lembro-me de ver pessoas no mar, na praia, e pensei, ‘Todos nós vamos morrer’.”
Apontando para uma cabana de salva-vidas amarela que está a meia milha de distância do hotel, ela acrescenta: "Tínhamos chegado até aqui e implorei para minha mãe parar.
Eu não queria deixá-la, mas comecei a correr de volta para o hotel.
Quando cheguei lá, meu pai estava com um segurança japonês dizendo, ‘Eu sei que isso parece completamente louco, mas minha filha diz que vai ter um tsunami’.
"No Japão, eles sabem tudo sobre tsunamis e o guarda disse, ‘Acho que ela está certa’.
"Ele então nos disse que havia ocorrido um grande terremoto no Oceano Índico. Eu disse, ‘Sim, sim, tsunami - onda gigante!’ Ele começou a gritar para as pessoas na praia saírem.
"Havia uma família caiaqueando no mar, pessoas na piscina. Todo mundo começou a correr, houve pânico total.
"Começamos a gritar para minha mãe, que estava correndo de volta, eu estava rezando para que ela conseguisse, já que ela era uma das últimas a sair da praia.
Vi que o mar já tinha recuado completamente e sabia que isso significava que o tsunami estava bem em cima. Eu gritei, ‘Corra! Corra!’ para todos. Lembro-me de famílias, crianças gritando. Havia uma parede de água vindo em nossa direção.
Perdi de vista meu pai e corri para o saguão do hotel, que estava em um andar alto. A água estava inundando o hotel. Havia estrondo, batida, o rugido do mar.
Havia centenas de pessoas no saguão, gritando. As pessoas simplesmente não sabiam o que fazer. Eu sabia que haveria mais ondas, então disse às pessoas que precisávamos ficar em terreno elevado.
Encontrei meu pai e, graças a Deus, minha mãe estava com ele. Todos nós nos abraçamos apertados, chorando."
Tilly diz: “Ninguém na nossa praia morreu. Não percebemos que milhares haviam morrido na Tailândia até vermos as notícias. Meu pai estava em choque. Ele continuava dizendo: ‘E se não tivéssemos ouvido você?’”
