A menos de um mês do fim de Dona de Mim, já é possível fazer um diagnóstico sobre um dos principais deslizes da trama. Para segurar sua história durante 218 capítulos, a autora Rosane Svartman precisou transformar a novela das sete em uma espécie de Law & Order brasileira: além do lado policial, carregado por Marlon (Humberto Morais) com diferentes níveis de sucesso, há uma sucessão sem fim de dramas jurídicos vividos pela família Boaz.
Abel (Tony Ramos) enfrentou Vanderson (Armando Babaioff) pela guarda de Sofia (Elis Cabral), enquanto Samuel (Juan Paiva) já brigou tanto com Jaques (Marcello Novaes) pela curatela de Rosa (Suely Franco) quanto com a própria madrasta, Filipa (Cláudia Abreu), pelo direito de cuidar da irmã de criação.
Até Leo (Clara Moneke) se deixou levar pelo clima litigioso da mansão e batalhou pela guarda do seu “furacãozinho”, mesmo sem ter nenhum laço de sangue com a menina da qual deveria ser apenas babá nem os recursos financeiros para criá-la com o padrão de vida que é dado pelos Boaz.
Tudo isso sem citar as brigas constantes pelo controle da fábrica de lingerie desde a morte de Abel. Jaques assumiu a empresa, mandou demitir vários funcionários, foi superado pelo sobrinho --que recontratou os dispensados–, voltou a ser o mandachuva quando assumiu as ações da mãe, levou a pior novamente quando Rosa repassou sua parte para Sofia, em um ciclo que se repetiu pelo que pareceu uma eternidade.
O pior é que a reta final da história vai voltar para os tribunais, já que Ellen (Camila Pitanga) --após revelar que forjou a própria morte e ficou escondida esses anos todos-- vai decidir lutar pela filha biológica que abandonou ainda bebê, a pedido de Hudson (Emilio Dantas). O malandro, para surpresa de ninguém, também está de olho nas ações da Boaz que pertencem à pequena.
Tantas reviravoltas em processos poderiam até render uma história interessante, mas apenas se os advogados e juízes fossem os personagens em foco --caso de Law & Order, The Good Wife (2009-2016) e outras produções jurídicas. Em Dona de Mim, a história fica apenas maçante, dando ao público a impressão de uma grande enrolação em que nada sai do lugar.
Nem mesmo quem estudou Direito ou trabalha com advocacia consegue se empolgar com a trama, já que Rosane Svartman e seu time de colaboradores precisam “voar” um pouco fora das quatro linhas da Constituição Federal para que a história se desenvolva da maneira como eles desejam e necessitam.
A impressão que a novela passa é de que a autora não engoliu por completo o engavetamento da série jurídica que havia criado para o Globoplay e decidiu contar uma história com advogados de todo jeito, mesmo que isso comprometesse o desenrolar natural de Dona de Mim.
É uma pena, pois a trama não é necessariamente ruim --embora tenha sérios problemas no desenvolvimento de sua mocinha, já que Leo nutre uma relação de codependência nada saudável com Sofia. Só que ninguém aguenta ver mais uma briga pela guarda da menina. Chega!
Dona de Mim é ambientada em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. O folhetim conta com direção artística de Allan Fiterman. No elenco, estão Clara Moneke, Tony Ramos, Juan Paiva, Rafael Vitti e Cláudia Abreu, entre outros nomes.