Grupos ‘criaram’ novos nomes para o crime e chegam a fazer uma associação com a cleptomania. Dados da Abrappe indicam que furtos internos e externos representaram 31% dos prejuízos do setor varejista.
Uma nova tendência entre o público jovem nas redes sociais ligou o alerta da polícia e dos profissionais da saúde mental para a prática de furtos.
“É tão bom sair da loja cheio de coisinhas novas sem pagar, é incrível a sensação". “Colheitinha de hoje foi cheia de produtinhos pra me cuidar, amo muito, tive que usar uma mochila grande”. “Não entendo quem tem ódio do clepto twitter. Tá mudando o que na sua vida, bebê? A menos que você tenha algo a ver com as lojas que eu mirtilo, você tá passando raiva atoa!”.
Essas mensagens foram publicadas na rede social X nas últimas semanas. E postagens semelhantes começaram a aparecer nas redes brasileiras no segundo semestre de 2024. Hashtags como cleptotwt ou cleptogirls se tornaram tendência e escancaram um novo comportamento entre jovens.
Usuários criam perfis anônimos - em grande parte, com imagens de personagens fictícios - para dificultar a identificação. Nessa nova ‘trend’, os jovens usam as plataformas digitais para expor pequenos furtos que fazem em lojas de conveniência, perfumarias, farmácias…
aquela pessoa que praticou o furto"
São casos de cleptomania?
O termo clepto usado nas redes não significa uma relação direta com a cleptomania. É o que aponta o psiquiatra forense Hewdy Ribeiro:
“O termo ‘cleptomania’ está absolutamente distorcido, errôneo e que, para alguns, pense essa ciência que, apesar de ser o nome de uma doença, usa-se como sendo um termo que, neste momento histórico, está como muito charmoso, significativo, enquanto que a maioria nunca se preocupou de saber qual é o significado da cleptomania enquanto um adoecimento mental”
A psicóloga e especialista em transtornos graves, Luciana Inocêncio, explica a diferença entre as ações:
“Para esses jovens, não existe sentimento de culpa e nem vergonha, porque eles exibem. Então é legal, é desafiador eu ir lá e conseguir furtar. E, na cleptomania, não. Na realidade, existe, na cleptomania, sintomas de ansiedade, de depressão, justamente pelo fato da culpa e vergonha que gera o próprio transtorno. Existe um sofrimento intenso, psíquico, no qual o sujeito precisa de tratamento de terapia e medicamento”
As publicações ostentam as aquisições ilegais, ligando o crime a um sentimento de adrenalina e aventura. Luciana Inocêncio expõe os danos que este comportamento pode causar no longo prazo:
“O que chama a atenção nesses casos, especificamente, não é só o possível desenvolvimento de um transtorno de cleptomania, mas algo que eu considero, profissionalmente, pior, que seria o transtorno de desvio de caráter, porque a consequência disso pode ser uma possível delinquência. Um adolescente que começa com esse tipo de comportamento, ou que é induzido ali pela internet, pelo meio que ele vive, já existe ali um possível desvio de conduta”
Tanto a psicóloga, como o psiquiatra, relataram a importância do acompanhamento familiar para conscientizar os jovens sobre o perigo deste comportamento e, caso seja necessário, da necessidade de tratamento médico para identificar possíveis distúrbios.