Bianca Bin encara o lado sombrio da internet na peça ‘Job’ e diz: ‘A tecnologia não é o mal. Ele está nas pessoas’
A atriz mergulhou no submundo da internet para expor, no palco, os impactos da tecnologia sobre a saúde mental. Bianca fala da jornada intensa com a personagem, repensa a relação com o virtual e divide o pacto de autocuidado que mantém consigo e com Sérgio Guizé, seu marido há oito anos. Entre a escolha por uma vida simples no interior, o desejo de ter filhos e os novos projetos no teatro e na TV, ela estará na nova novela ‘Dona Beja’, da HBO Max, que tem previsão de estreia no primeiro semestre de 2026, e a segunda temporada de ‘Colônia’, série do Canal Brasil.
*Por Brunna Condini
Entre a densidade emocional de uma personagem que mergulha diariamente no submundo da internet e a serenidade que encontra na vida no interior, Bianca Bin vive, no palco e fora dele, um momento de profundas reflexões sobre saúde mental, propósito e limites. Em ‘Job’, espetáculo dirigido por Fernando Philbert, que discute o impacto do universo digital nas pessoas, a atriz interpreta uma moderadora de conteúdo impróprio, papel que exigiu pesquisa intensa, atravessou seu corpo e a fez repensar a relação com a tecnologia. Entre a rotina de autocuidado, a defesa do descanso como ato revolucionário e a escolha por uma vida simples ao lado do ator Sérgio Guizé, Bianca, que acaba de fazer uma participação em ‘Êta Mundo Melhor!’, novela das seis da Globo em que o marido é protagonista, fala ao site HT sobre o desejo de ter filhos, vulnerabilidade, reinvenção e a importância de estar “com os pés na terra” para seguir inteira na vida e na arte.
Entre um projeto e outro no horizonte, a nova novela ‘Dona Beja’, da HBO Max, que tem previsão de estreia no primeiro semestre de 2026, e a segunda temporada de ‘Colônia’, série do Canal Brasil.
Citar
Quero qualidade, não quero quantidade. Amo o que faço, mas não quero a protagonista, se a protagonista significa não ter folga. Então vou coadjuvar, e eu vou coadjuvar da melhor forma que eu puder, mas não abro mão mais do meu descanso, da minha folga. Para seguir com saúde preciso disso- Bianca Bin
Em cena, ao lado de Edson Fieschi, ela vive os conflitos de ser uma profissional que é responsável por ‘filtrar’ o que tem de pior na internet. O mergulho neste submundo contemporâneo fez Bianca descobrir um universo tão real quanto invisível para a maioria. “Eu nem sabia que essa profissão existia. Precisei pesquisar muito, ler, assistir a entrevistas. É um trabalho duríssimo. Minha terapeuta me contou que atende moderadores que desenvolvem síndrome do pânico. A gente se torna aquilo que consome. Minha personagem mesma chega a dizer: “Sou isso”. E vive um colapso. É pesado, denso e diferente de tudo que já fiz”, conta.
A experiência também tem aberto novas perspectivas a respeito do tema. “A tecnologia não é o mal. O mal está nas pessoas. Ela potencializa tanto o bom quanto o ruim. A gente demoniza a internet, mas precisa olhar para a nossa própria doença como sociedade”, reflete. A atriz compartilha ainda, que o impacto da imersão na peça não ficou só no plano mental. “Depois da estreia, meu corpo ficou frágil. Minha médica também havia retirado o antidepressivo que tomei durante um ano, por conta de um transtorno de ansiedade. Me senti vulnerável, acho que foi tudo junto. Viver essa personagem mexeu muito comigo. Tudo se mistura, é muito permeável. É sempre saudável limpar o que é do personagem e o que é nosso”.
Essa consciência tem ligação direta com a rotina de autocuidado inegociável adquirida há alguns anos, que inclui terapia e exercícios físicos, movimentos para uma mudança de perspectiva de vida. “Isso e pausar. Saber descansar é realmente revolucionário”. E completa:
Citar
Brigo pelo 5×2, que são duas folgas semanais para cinco dias de trabalho intenso. Sou muito conectada ao descanso, à pausa, à respiração. Pratico a meditação transcendental, que também me trouxe muitos benefícios nesse sentido. Às vezes nos sentimos até mal, culpadas por descansar. Não romantizo mais o trabalho estafante. Minha saúde física e mental vem primeiro – Bianca Bin
Pacto e projetos
O movimento de reconexão com o que é verdadeiramente importante, também passou por um pacto íntimo com o marido, com quem está há oito anos. “Ele se trata há mais de 15 anos com psicoterapia, e há alguns anos me disse: “Ou você vai olhar para as suas dores, ou vai ser difícil. Porque eu olho para as minhas, me cuido. Você também precisa se cuidar para a gente ir junto, partir de um mesmo lugar”. Isso mudou tudo. Nos uniu mais. Parei de apontar o dedo para os outros e comecei a me olhar. A terapia foi um ponto de virada na minha forma de me relacionar. Quero ir embora daqui melhor do que cheguei”, divide Bianca.
A atriz segue nutrindo o desejo de aumentar a família, mas não por agora:
Citar
Queremos ter filhos, mas no momento certo. Até lá, quero seguir vivendo com os pés na terra, inteira para a vida e para a minha arte – Bianca Bin
E adianta: “Têm alguns projetos em teatro, inclusive com o Guizé, que caminham paralelamente a tudo isso que estamos vivendo no momento. Estamos inscrevendo nosso projeto teatral nos editais. E provavelmente, no próximo ano, também farei uma novela”.
Perto da natureza das coisas
A escolha por morar em Indaiatuba, no interior de São Paulo, ao lado de Sérgio Guizé, reforça essa filosofia de retorno ao que é essencial. “Pisamos na terra, plantamos, criamos nossos bichos soltos. Voltei às minhas raízes. É uma vida mais simples, mas muito mais conectada ao que importa. Foi uma escolha radical, mas acertada”, afirma.
“Diminuímos o nosso ritmo interno, então nos conectamos com o ritmo da natureza, plantamos, comemos o que colhemos. Esperamos tudo crescer, amadurecer. Isso faz a gente se conectar com a nossa própria natureza, que é essencialmente selvagem, bicho. Então, fez muito sentido essa mudança. Quando preciso, nos deslocamos. Agora, por exemplo, estamos morando no Rio de Janeiro, porque o Guizé está fazendo a novela. Deu certo de ensaiar minha peça lá também, porque o diretor e o Edson moram no Rio. Assim, consegui ficar mais pertinho do meu marido, dos bichinhos. E agora a gente faz assim: fico de segunda a quinta lá com ele, e de quinta a domingo aqui, trabalhando em São Paulo. Até outubro”.
Bianca destaca a importância de manter um porto seguro longe dos holofotes. Entre gravações e ensaios, a atriz encontra na chácara que divide com Sérgio Guizé um refúgio para silenciar o barulho do mundo e se voltar para o real. “É reconfortante saber que temos um lugar para voltar. A frequência muda, a energia é outra”, conta, citando sua crença em física quântica e no impacto que o ambiente exerce sobre nós. Nascida em Jundiaí e criada em Itu, ela diz que o retorno ao interior foi também um reencontro com suas raízes, e não sem desafios. “Voltar é uma escolha boa, mas dura. É lidar de perto com a família, com questões antigas, e, ao mesmo tempo, evoluir enquanto ser humano”. Hoje, a poucos minutos dos pais e com a sogra morando na chácara em frente, Bianca vê no interior a vida que quer levar: “Sou pé de barro, pé vermelho, como diz a Vera Holtz. É a vida que amo ter”.
Citar
Eu e Guizé gostamos do simples. Me juntei com um cara que tem tudo a ver comigo, juntou a fome com a vontade de comer. Somos dois tatus que quando não estão trabalhando, estão escondidos embaixo da terra, num buraquinho. É isso, ser feliz para a gente custa pouco, sabe? – Bianca Bin
