Venda livros de não ficção aquece mercado editorial e obras religiosas ganham em volume de vendas

Venda de livros de não ficção aquece mercado editorial e obras religiosas ganham em volume; entenda

A pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, divulgada nesta quarta, 28, apresenta pela primeira vez o desempenho por gênero dos livros. Dados mostram que as vendas tiveram crescimento nominal, mas o mercado segue em recuperação

Os livros de não ficção representaram a fatia de maior faturamento do mercado editorial brasileiro em 2024, segundo a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, coordenada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), com apuração da Nielsen BookData.

O levantamento, divulgado nesta quarta-feira, 28, mostra que o mercado editorial brasileiro faturou, em 2024, R$ 6,6 bilhões, no total. Esse número representa um crescimento real de 1,9% quando comparado com 2023, quando o faturamento foi de R$ 6,2 bilhões.

Desse faturamento, R$ 4,2 bilhões foram com vendas para o próprio mercado, como livrarias, distribuidoras, entre outros, e R$ 2,4 bilhões em vendas para o governo. Em número de exemplares, foram comercializados, ao todo, 361 milhões (174 milhões para o mercado e 187 milhões para o governo). Para o presidente do SNEL, Dante Cid, o resultado geral é ligeiramente positivo, o que representa um alívio para o setor.

Segundo os dados apresentados, o gênero Não Ficção Adulta representa 28,5% da categoria em vendas ao mercado, com faturamento de R$ 1,2 bilhões no ano passado. É a primeira vez que a pesquisa, já tradicional no setor, apresenta o desempenho por gênero dos livros. Os dados foram enviados por 122 editoras brasileiras de diferentes tamanhos e perfis.

Mariana Bueno, coordenadora de pesquisas econômicas da Nielsen BookData, explicou em coletiva de imprensa que a divisão é diferente daquela que já era feita sobre os subsetores do mercado, que divide as editoras em Obras Gerais, Religiosos e CTP (Científicos, Técnicos e Profissionais) e Didáticos.

Neste caso, estamos falando dos livros em si. De acordo com Mariana, as categorias foram feitas seguindo um modelo comum no exterior, com Não Ficção Adulta, Didáticos, Ficção Adulto e Infantis e Juvenis. Foi adicionada a categoria Religiosos, já que este mercado é muito forte no Brasil e na América Latina no geral.

Depois da Não Ficção Adulta, os Didáticos representaram o maior faturamento do setor (27,2% das vendas ao mercado, R$ 1,14 bilhões arrecadados), seguidos por Ficção Adulta e Religiosos, com 15,7%/R$ 658,57 milhões e 15,6%/R$ 652,45 milhões. Por fim, estão os livros Infantis e Juvenis, que representam 13% do faturamento, arrecadando R$ 545,43 milhões.

Por outro lado, em número total de exemplares vendidos, os Religiosos saem na frente, representando 29,5% da venda, com pouco mais de 51,3 milhões de livros vendidos. Depois está a Não Ficção Adulta, com 22,6% e 39,2 milhões de exemplares vendidos, seguida por Ficção Adulta (18,7% e 32,5 milhões), Infantil e Juvenil (18,4% e 31,8 milhões) e Didático (10,8% e 18,7 milhões).

Felipe Brandão, diretor editorial da Editora Planeta Brasil, diz que a não ficção tem um papel estratégico no faturamento do grupo: “Livros de não ficção, especialmente nas áreas de desenvolvimento pessoal, saúde mental, espiritualidade, política, história e biografias, costumam ter alta rotatividade nas livrarias e excelente desempenho em canais, tanto físicos quanto digitais.”

“Além disso, muitos desses títulos se tornam long-sellers, mantendo relevância por anos. É um segmento que combina alto apelo comercial com a possibilidade de impacto real na vida dos leitores”, completa ele. O selo Paidós, da Planeta, publicou o fenômeno editorial A Gente Mira no Amor e Acerta na Solidão, de Ana Suy.

Otavio Marques da Costa, publisher da Companhia das Letras, pondera que a não ficção é uma categoria muito ampla e, portanto, difícil de avaliar como um bloco único. “Nela estão autoajuda, desenvolvimento pessoal, negócios, manuais de investimento, biografias, reportagens investigativas, ciências humanas, humanidades de modo geral, ensaios, ensaios pessoais, memória”, lembra. “Ela é composta por várias subcategorias, que, inclusive, às vezes, têm comportamentos conflitantes.”

A Autêntica diz que tem feito um investimento na não ficção mais ensaística, “com potencial para atingir um público mais amplo”. “Nesse sentido, tanto o selo Autêntica quanto Vestígio têm tido um resultado muito importante com a não ficção, que pode representar de 75% a 90% do resultado, respectivamente”, explica Rejane Dias dos Santos, diretora executiva do Grupo Autêntica.

Por que a não ficção aparece na frente?

A liderança de livros de Não Ficção Adulta no faturamento pode ser explicada por alguns fatores. O preço de capa destes livros costuma ser mais alto do que o dos religiosos, por exemplo, que lideram em número de exemplares vendidos. (Vale citar que, segundo a pesquisa, o valor médio do livro vendido ao mercado em 2024 foi de R$ 24,12, um aumento nominal de 2,9% em relação ao ano anterior, abaixo da inflação.)

Mariana Bueno explica que, para a realização da pesquisa, o gênero atribuído pela editora ao livro é o que vale. Dessa forma, é preciso levar em consideração que nem todas as editoras classificam seus livros da mesma forma e um livro de tema religioso pode entrar em não ficção, e vice-versa.

Ainda assim, a não ficção vende mais que a ficção, cujo preço de capa tende a não diferir tanto. Para Sevani Matos, presidente da CBL, esse dado pode indicar que o leitor brasileiro “busca por conteúdo que vai além do entretenimento, abrangendo também conhecimento e espiritualidade”. Já Felipe Brandão, da Planeta, diz que o público tem procurado “conteúdo que o ajude a entender o mundo e a si mesmo.”

Em tempos de transformação social, crise econômica e mudanças de comportamento, a não ficção oferece ferramentas práticas, inspiração e conhecimento confiável. Biografias e relatos reais despertam identificação; livros de autoajuda e psicologia trazem conforto e direção; obras de atualidades e ciências humanas promovem pensamento crítico. A força da oralidade, os influenciadores e especialistas com grande alcance digital também ajudam a ampliar o público. É um mercado dinâmico, conectado às urgências do presente, diz ele.

Para o próximo ano da pesquisa, que vai avaliar os resultados de 2025, é possível que o levantamento seja afetado pelo fenômeno dos livros de colorir, que tem dominado as listas de mais vendidos com números impressionantes, acima dos 100 mil exemplares, e podem aparecer como Não Ficção Adulta ou Infantil e Juvenil, por exemplo.

As editoras, contudo, adiantam algumas apostas que devem fazer sucesso nos próximos meses: A Autêntica publica em julho, pelo selo Vestígio, A Hora dos Predadores: Como Autocratas e Magnatas Digitais Estão Levando o Mundo à Beira de um Colapso Orquestrado, de Giuliano Da Empoli, o mesmo autor de Os Engenheiros do Caos e de O mago do Kremlin.

A Sextante destaca o best-seller do New York Times Excelência Interior, de Jim Murphy (Sextante), descrito como “o livro de cabeceira dos grandes atletas de alto rendimento, também para julho. A Record, pelo selo BestSeller, vai publicar Deixa Pra Lá: A Teoria Let Them, da advogada Mel Robbins, o livro mais vendida da Amazon americana em 2025 até então.

A Planeta vai lançar Filosofia, Um Modo de Viver, de Marilena Chauí, previsto para outubro de 2025, que “traduz décadas de reflexão filosófica para um público amplo, sem abrir mão da profundidade”. Já a Companhia das Letras destaca o próximo livro de Tamara Klink, sobre o último período de invernagem da velejadora, para o segundo semestre.

Vendas ao mercado crescem, mas setor segue em recuo

É importante pontuar também que esses dados representam uma margem pequena da população geral. Como mostrou outra pesquisa, a Retratos da Leitura 2024, mais da metade dos brasileiros é considerada não leitora. E os números da pesquisa Produção e Vendas mostram que, em comparação com outros setores, o mercado de livros no Brasil é pequeno.

Em 2024, o mercado editorial nacional vendeu 361 milhões de exemplares, que geraram um faturamento de R$ 6,6 bilhões - desses, R$ 4,2 bilhões são do mercado (174 milhões de exemplares) e R$ 2,4 bilhões, do governo (187 milhões de exemplares). Em 2023, o faturamento foi de 6,2 bilhões e em 2022, de R$ 5,5 bilhões.

As vendas apenas ao mercado tiveram um crescimento nominal de 3,7%. Contudo, ao considerar a inflação, segundo a variação do IPCA, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (4,83%), o setor apresenta um recuo de 1,1%. Quando somadas as vendas ao governo, as editoras voltam a ter um resultado positivo, com crescimento de 1,9%.

Além disso, três dos quatro subsetores avaliados apresentaram crescimentos nominais de vendas ao mercado: Obras Gerais, Religiosos e CTP (Científicos, Técnicos e Profissionais), com 9,2%, 8,7% e 3,3%, respectivamente. Apenas a categoria Didáticos registrou desempenho nominal negativo, com recuo de 5,1% nas vendas ao mercado.

O resultado geral é positivo quando comparado ao de 2023, quando o setor registrou uma retração de 5,1% em termos reais no faturamento. Além disso, os dados da pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro, também divulgada nesta quarta, mostram que o bom desempenho dos livros digitais ajudaram a comercialização ao mercado a encerrar o ano com crescimento real de 0,2% (mais informações abaixo).

Outro dado importante é que, em 2024, as livrarias virtuais foram - pelo terceiro ano seguido - o principal canal de distribuição de livros impressos, representando 33,6% do faturamento e 32,1% dos exemplares. As livrarias físicas estão logo atrás, com 27,7% de faturamento e 30,1% dos exemplares.

Conteúdo digital segue crescendo

No ano passado, o Brasil contava com 135 mil títulos em formato digital, sendo 91% e-books e 9% audiolivros. Desses, 11% eram lançamentos - cerca de 15 mil títulos inéditos. Foram cerca de R$ 171 milhões faturados com 165.716 mil unidades vendidas à la carte (quando o consumidor compra apenas um e-book ou audiolivro), um crescimento de 0,6% em comparação com 2023.

Já os serviços de assinatura, as plataformas educacionais, bibliotecas virtuais e os cursos online, somados, tiveram faturamento de de R$ 241,9 milhões. O crescimento chamou a atenção: 30% em relação ao ano passado. Esse número foi puxado pelo crescimento de 47,6% das bibliotecas virtuais, em que as editoras de CTP (Científicos, Técnicos e Profissionais) vendem para universidades.

Considerando apenas as vendas ao mercado, o Conteúdo Digital representa 9% do faturamento das editoras. Em 2023, esse número era de 8%.

Outros números da pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro 2024

  • 44 Mil Títulos produzidos (23% lançamentos; 77% reimpressões)
  • 366 Milhões de Exemplares impressos (58% Didáticos, 24% Obras Gerais, 15% Religiosos e 4% CTP
  • 361 milhões de livros vendidos (174 milhões ao mercado, 187 milhões ao governo)
  • R$ 6,6 bilhões faturados (R$ 4,2 bilhões do mercado, R$ 2,4 bilhões do governo
  • Preço médio do livro vendido ao mercado: R$ 24,12 (aumento de 2,9%; abaixo da inflação, que foi de 4,83%)
  • 16% de crescimento real no faturamento com Conteúdo Digital

@BookStan

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não gosto e nem consumo esses generos, mas isso dá uma aquecida importante no mercado. é importante que isso ajude as editoras a investirem no segmento e nos demais generos. ou seja, deixa que esse tipo de livro banque os outros estilos.

lixo.

Não ficção é oq mais fatura, pq saindo dos livros de negócios/coachs/autoajuda da vida…

Os preços são mega caros para os livros mais nichados, por exemplo, livros de história que não são bestsellers

Na livraria que frequento tem uma sessão gigantesca só de bíblias, sem contar as obras religiosas.

Eu amo livros turísticos, que falam sobre regiões interessantes do mundo todo. No entanto, é muito difícil de achar. Sem contar que são bem caros.

Gêneros que eu passo

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esse país ta na merda mesmo

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que lixo