Após passar os dois primeiros meses em ritmo lento e com tramas praticamente espelhadas da versão original de 1988, o remake de Vale Tudo finalmente engrenou em junho e julho, e o mérito é da autora Manuela Dias. Criticada inicialmente por atualizações tímidas e pouco eficazes, que às vezes até soavam datadas, a novelista virou o jogo com uma sequência de viradas e subtramas que, mesmo controversas, surtiram efeito.
A estratégia dela e da Globo precisava ser prender o público, aquecer o debate nas redes sociais e tirar a novela do marasmo --o que de fato aconteceu. A primeira grande reviravolta veio com a revelação de que Leonardo (Guilherme Magon), filho de Odete Roitman (Debora Bloch), dado como morto, estava vivo e sendo mantido escondido pela própria mãe.
Exibida na primeira semana de junho, a novidade foi o ponto de inflexão necessário para reacender o interesse de muita gente na história, até então calcada na mesma estrutura da obra original de Gilberto Braga (1945-2021), Aguinaldo Silva e Leonor Bassères (1926-2004). A partir dali, Vale Tudo passou a exibir capítulos com novidades, mas sem alterar o rumo central da trama: o golpe de Maria de Fátima (Bella Campos), que seguiu firme rumo ao altar com Afonso (Humberto Carrão).
A virada não era novidade, mas foi embalada por uma estratégia agressiva da Globo em julho. A novela ganhou uma semana especial --o que não deixa de ser uma forma de relançamento. A emissora investiu forte nas chamadas de divulgação na TV e até promoveu a distribuição de convites fictícios e bem-casados para o casamento de Fátima e Afonso.
Em sua estratégia, Manuela apostou em temas contemporâneos, como a compra e a venda de bebês reborn, mesmo que de maneira superficial. Outro tópico atual, a assexualidade, também foi pincelado, embora que ainda de maneira coadjuvante.
O roubo do quadro de Heleninha (Paolla Oliveira), completamente novo em relação à trama original, soou como um enredo de preenchimento, mas movimentou os personagens, criando suspense. Outra mexida assertiva foi a transformação da Leila de Carolina Dieckmmann em bandida, fazendo um par perfeito com o inescrupuloso Marco Aurélio (Alexandre Nero).
Todo esse esforço rendeu frutos: Vale Tudo bateu recorde de audiência mensal em julho e também de engajamento nas redes, provando que o público respondeu à mudança de tom.
A crítica especializada e parte dos telespectadores podem não ter engolido todas as escolhas narrativas, mas é inegável que houve reação. Desde que os capítulos com essas alterações começaram a ir ao ar, os índices de audiência subiram, a novela voltou a ser comentada com intensidade e até os spoilers recuperaram o fôlego, graças à curiosidade em torno das mudanças.
Manuela Dias, portanto, mostra que compreendeu a dinâmica das novelas em 2025: não basta apenas atualizar o texto, é preciso surpreender. O placar virou. E como se diz no futebol --e também na teledramaturgia–, o que importa, no fim das contas, é ganhar o jogo.
Vale Tudo foi exibida em 1988 e é um dos grandes sucessos da teledramaturgia brasileira. O remake da novela celebra os 60 anos da Globo. A autora Manuela Dias está responsável pela atualização da trama, e Paulo Silvestrini assina a direção artística.